Existem descrições do problema em várias enciclopédias médicas que circulavam pela Europa. Inclusive há uma referência literária sobre o distúrbio em “O Licenciado Vidraça”, de 1613, um dos relatos que compõem as “Novelas Exemplares” de Miguel de Cervantes — o mesmo autor de “Don Quixote” —, no qual o herói da trama é envenenado e desenvolve a ilusão. Até mesmo Descartes divagou sobre o problema em seu “Meditações sobre Filosofia Primeira”.
Desaparecimento
Após 200 anos de popularidade, os casos de pessoas que achavam que eram de vidro começaram a desaparecer, e a partir do século 19 os registros de indivíduos afetados pelo distúrbio foram se tornando gradativamente mais raros. Uma das teorias é a de que o vidro era um material novo, quase místico, quando o distúrbio surgiu. Mas, com o tempo, ele foi se tornando cada vez mais ordinário, mudando a percepção que a sociedade tinha dele.E o distúrbio do vidro não foi o único relacionado a novidades tecnológicas que surgiram ao longo da História. No século 19, quando o cimento era uma coisa nova, também foi registrado um problema mental envolvendo o material. E não precisamos voltar muito no tempo para encontrar mais exemplos: nas últimas décadas não faltaram pessoas convencidas de que organizações obscuras seriam capazes de ler mentes através de geringonças eletrônicas!
Casos contemporâneos
Segundo Lameijn, o medo que a mulher sentia de ter contato com outras pessoas era tão grande que ninguém podia se aproximar dela, nem mesmo as enfermeiras. Outro caso foi registrado em meados dos anos 60, mas em nenhuma das ocasiões o psiquiatra encontrou muitos detalhes sobre o que poderia ter motivado o surgimento de um distúrbio medieval em pacientes mais contemporâneos.
Preocupações modernas
Sendo assim, Lameijn especula que uma possibilidade seja a de que o distúrbio tenha surgido como forma de o rapaz conseguir reconquistar sua privacidade e lidar com os familiares zelosos. Isso significa que, nos dias de hoje, esse tipo de problema psiquiátrico pode estar associado com as ansiedades da sociedade com respeito à vida moderna, como é o caso da fragilidade, da transparência e da conquista do espaço pessoal em um mundo superpopuloso.
O medo de ser de vidro e poder se estilhaçar ainda pode ser interpretado como um temor exagerado de sofrer algum tipo de humilhação social, algo sobre o qual todo mundo sente receio. Desta forma, apesar das diferenças com respeito às motivações na Idade Média, o distúrbio — tal como outros tantos que surgiram com o passar dos séculos —, possivelmente reflete os anseios de indivíduos conforme eles se ajustam para viver em sociedade.
Via Mega Curioso
Nunca tinha ouvido, falar. Interessante mas assustador.
ResponderExcluirAbraços