Para a maioria das pessoas, passar dos 100 anos de idade parece um feito improvável. Mas em Bauru, no interior de São Paulo, um homem completa 126 anos nesta segunda-feira e pode ser o mais velho do mundo. José Aguinelo dos Santos nasceu em um quilombo em Pedra Branca, no interior do Ceará, em 7 de julho de 1888, quase dois meses depois que a Lei Áurea extinguiu a escravidão no Brasil.
O asilo não tem informações sobre possíveis familiares do idoso, como irmãos ou sobrinhos. A psicóloga que o acompanha, Mariana Canassa da Silva, explica que na época em que ele foi morar no asilo não era preciso citar esse tipo de informação. Mariana trabalha na Vila Vicentina há pouco mais de um ano e convive diariamente com o idoso. Ela conta que, em alguns momentos de maior lucidez, José Aguinelo relembra o passado.
“Não sabemos se os pais dele foram escravos, mas ele sempre conta que nasceu num quilombo. Que lá eles plantavam milho, mandioca. De lá ele veio para São Paulo para trabalhar na lavoura de café, mas ele não se recorda como essa viagem foi feita, nem quando. Só se lembra que morou em Jacuba (bairro rural de Arealva, município vizinho a Bauru)”, explica.
“A gente até tenta puxar conversa com ele, pergunto como vão as coisas, onde ele morava, mas ele não gosta muito de conversar”, conta o aposentado Arthur Bertaglia, de 84 anos, também morador do asilo.
Na rotina diária do aposentado estão banhos de sol pela manhã e caminhadas pelas dependências do asilo, mas é no quarto que ele passa boa parte do dia, tendo como um dos passatempos o cigarro. Ele consome um maço por dia que é adquirido com o dinheiro da aposentadoria. O idoso divide o mesmo quarto com outro homem há 15 anos. A psicóloga também enfatiza que José Aguinelo faz quase tudo sozinho, apenas o banho é monitorado. “Ele também interage com os outros idosos no salão de convivência, dança e canta, do jeito dele, mas canta”, brinca.
“Na hora do almoço o Zé é o primeiro a chegar no refeitório”, disse a nutricionista da instituição Lilian Ferrari. No cardápio, alimentos como saladas e doces não são bem aceitos. “Café ele adora. De manhã toma café com leite e açúcar e pão puro. Ao todo são cinco refeições diárias”, disse. Questionado sobre o que mais gosta de comer, José Aguinelo é rápido. “Arroz e feijão”.
A nutricionista acredita que a alimentação saudável e regrada, além da prática de atividade física, do trabalho que o idoso desenvolvia na lavoura de café, podem ter contribuído para a longevidade. “Antigamente não se tinha alimentos industrializados como temos hoje. A alimentação era mais natural e saudável. Para se ter uma ideia, usava-se só banha de porco e sal para conservar os alimentos”, explicou.
Via Terra
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